quarta-feira, 25 de maio de 2011

Bakulo Abdias do Nascimento


"Vencedor eu não acredito que seja. Olho pra trás e vejo que sou um grande trabalhador. Vejo os outros, muitos e muitos que começaram comigo ou começaram depois e foram companheiros de luta, já desistiram há muito tempo. Já foram embora há muito tempo. E eu continuo acreditando, continuo falando com um esforço tremendo para fazer alguma coisa. Deixar alguma coisa feita. É preciso suar muito. Eu não gosto de pensar muito nessas coisas porque dá um estremecimento dentro da gente. Porque também dizer que a gente não fez nada, seria injusto comigo mesmo. Mas eu não fiz tudo o que eu queria fazer. O que eu tinha pra fazer é muito pequeno diante da situação que o negro enfrenta nesse país..."
(Texto Abdias do Nascimento inserido no espetáculo Bença do Bando de Teatro Olodum)
Obrigado mestre por todos os ensinamentos, não estaremos no palco sozinhos.
Até breve!

Bença: profundo e belo

Texto de Joceval Santana, jornalista.

Profundo e belo. Ainda sob o impacto do que acabo de assistir, são essas qualidades que se insistem na minha cabeça quando mais penso em Bença, espetáculo encenado pelo Bando de Teatro Olodum e pelo diretor Marcio Meirelles. E encenado também por Jarbas Bittencourt, por Zebrinha, por Rivaldo Rio. Sim, porque Benção é uma "confirmação" - de artistas que vêm trabalhando e se entendendo com o Bando e que, nesse espetáculo, mostram o grau dessa compreensão mútua e a contribuição para o discurso cênico e constitutivo do grupo.

"Você pensa que quando está no palco está sozinho?", a pergunta era meio essa. E se aplica também ao caso dos colaboradores da montagem. Mas, claro, aplica-se mais às questões de ancestralidade e herança tratadas na peça, que, através da religiosidade, fala da memória e das marcas de identidade impressas em nós, afrodescendentes. E o Bando tem propriedade. Pela trajetória, pelo posicionamento, pela vivência, pela forma como se cosntitui artística e socialmente. Se não, como entender o corpo tão presencial de Rejane Maia, ou a força mobilizadora em cena de Valdinéia Soriano, ou a cadência cênica de Jorge Washington? São, no caso, exemplos de um caráter específico do Bando, na qual a performance é meio de afirmação de uma negritude. E isso fica muito claro em Bença.

O espetáculo é um assentamento, uma imersão. Um diálogo franco e envolvente com o candomblé - pelo seu caráter ritualístico, na utilização com elementos cênicos (corpo, voz, musicalidade), mas também como organização comunitária, lugar de vivência, de saberes e valores, pelos quais se evoca o posicionamento como membro de uma sociedade, elo de uma cadeia e parte de uma natureza eminentemente cíclica. Respeito e atitude.

Imergi no espetáculo através da sobreposição e simultaneidade das imagens, falas, cenas e depoimentos (ao vivo e em vídeo), pela fragmentação das narrativas, pelos deslocamentos cênicos, pelos ritmos, pela tonalidade de Bença, que em mim revigorou o caráter inexorável tempo.

sábado, 21 de maio de 2011

“Bença”, do Bando de Teatro Olodum, alia tradição e novas tecnologias

Neste final de semana, os convidados serão afoxés de Feira de Santana




Ao completar 20 anos de trajetória no teatro baiano, o Bando de Teatro Olodum apresenta a peça BENÇA (em cartaz no Teatro Vila Velha, sempre as sextas e sábados, 20h, e domingos, 17h, até 29 de maio) proporcionando o encontro das tradições culturais afro-brasileiras com as novas tecnologias. O espetáculo instalação alia a performance de 17 atores e dois músicos a depoimentos em vídeo de personalidades negras que, em telões, narram histórias e ensinamentos da memória cultural dos mais velhos. Os fragmentos de diálogos ganham performance nas músicas executadas ao vivo e nas coreografias, que garantiram ao coreógrafo do grupo, Zebrinha, o Prêmio Braskem de Teatro 2010 de Profissional do Ano. Todo o espetáculo é filmado simultaneamente pelos atores, aliando imagens atuais a momentos marcantes da história da presença negra nas artes cênicas. Não faltam homenagens a figuras como Mário Gusmão e Antonio Pitanga, entre tantos outros. “Agora estamos investigando essa relação de nossa dramaturgia com as novas tecnologias, usando os depoimentos, o audiovisual, o universo virtual como parte da narrativa cênica”, explica Márcio Meirelles, diretor do espetáculo.

Durante o processo de montagem da peça, o grupo visitou espaços de preservação da memória cultural negra. Nesta segunda temporada, o Bando está recebendo no Teatro Vila Velha aqueles que contribuíram para a construção do espetáculo. Assim, a cada sessão, são convidados grupos culturais, terreiros de candomblé e demais instituições ligadas ao conhecimento dos mais velhos. No próximo domingo, dia 22 de maio, haverá uma sessão especial, às 17h, que contará com a presença de afoxés do município de Feira de Santana. São eles: o afoxé Óguian; Logun Edé; Estrela do Oriente; Filhos de Guian; Filhos da Luz e Filhos de Ogum. Estarão presentes também representantes do afoxé Pomba de Malê, a mais tradicional agremiação carnavalescas de Feira de Santana, criada há 25 anos, por Dona Ernestina Carneiro (Dona Pomba), fundadora da Rua Nova, bairro de concentração negra.

“Os jovens devem aprender a riqueza que há na velhice, para respeitar os mais velhos e terem vontade de ficar velhos. Caso contrário, a velhice deles será no máximo aos 25 anos”, destacou o pesquisador da cultura afro-brasileira, professor Jaime Sodré, após assistir ao espetáculo. “Eles foram buscar os elementos da ancestralidade para dialogar com as novas tecnologias, para mostrar que estão enganados aqueles que pensam que a nossa tradição não se conecta com a modernidade”, reforça o historiador.

BENÇA tem patrocínio da Petrobras, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Com linguagem contemporânea e não linear, a peça, ao falar dos mais velhos, trata a passagem do tempo como algo construtivo e enriquecedor. Não um tempo cronológico que simplesmente passa, mas o tempo das coisas. O Bando homenageia sua própria história, mas também presta reverencia aos atores negros que o antecederam e os antepassados que preservaram a cultura e a religião diante de tanto preconceito e exclusão.

No próximo domingo, 29, estarão presentes representantes da cultura negra da cidade de Ilhéus. Pensando nestes convidados especiais, o Bando apresentará BENÇA mais cedo aos domingos: às 17h, facilitando o deslocamento dos mais velhos. Terreiros de Candomblé interessados podem procurar o Bando para agendar ingressos.

SERVIÇO

BENÇA

Sextas e sábados, 20h / domingos, 17h ATÉ 29 DE MAIO

Os ingressos custam R$40 inteira e R$20 meia todos os dias.

Promoção

Os 50 primeiros ingressos, de cada sessão, serão disponibilizados a R$ 15 (preço único). Até 24h antes de cada espetáculo.

Instituições e escolas terão descontos na compra acima de 20 ingressos. Cada ingresso ficará no valor de R$ 15 (preço único).

Tel: 71. 3083-4607

E-mail: bando2@gmail.com

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Bando participa de show no Rio de Janeiro em prol do Childhood

Algumas das maiores estrelas da cultura brasileira se apresentaram no palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro para o Espetáculo Infância Livre de Exploração e Abuso Sexual, chamando a atenção do país para a causa da Childhood Brasil, instituição brasileira feita para proteger a infância e deixar as crianças serem crianças.
Com direção de Monique Gardenberg,(ò Paí, ó!) participaram do show as atrizes, Arlete Dias, Auristela Sá, Cassia Valle, Elane Nascimento, Jamíle Alves, Rejane Maia, Telma Souza, Valdinéia Soriano do Bando de Teatro Olodum, a bailarina Ana Botafogo, Caetano Veloso, Djavan, Marcelo Bratke, Maria Bethânia, Maria Gadú, Milton Nascimento, Renata Sorrah, Sandra de Sá, Sandy, Seu Jorge e Thiago Soares, entre outros.


Há 12 anos, a Childhood Brasil luta contra o abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes, trabalhando com excelência e estratégia para enfrentar este problema em conjunto com as empresas, Governos e comunidades. A organização apóia projetos, desenvolve programas, influencia políticas públicas e transforma a vida de muitas crianças adolescentes.

A cegonha anda solta no Bando!!!

Primeiro foi a chegada de Ayana, filha dos atores Cell Dantas e Clésia Nogueira.

Agora é a vez de Enzzo Luis, filho de Sérgio Laurentino e Sanny

Enzo nasceu no dia 17 de maio de 2011, às 19h


 

terça-feira, 17 de maio de 2011

Licia Fabio » AXÉ DA NAÇÃO JEJE

Licia Fabio » AXÉ DA NAÇÃO JEJE

BANDO NO MUNDO 2

Foto de ÁFRICAS

As mulheres do Bando, no Childhood Brasil, ajudam a lançar o Movimento Infância Livre

Chico Buarque apoia o Movimento Infância Livre de Exploração e Abuso Sexual, promovido pela Childhood Brasil. Caetano Veloso, Sandra de Sá, Ana Botafogo e Milton Nascimento também – além de estes artistas participarem de um espetáculo em benefício da Childhood Brasil no Theatro Municipal do Rio de Janeiro no dia 17 de maio, eles contam uma memória de sua infância no hotsite Infância Livre.
Para participar deste movimento, você pode entrar no hotsite, contar uma história de sua infância e postar uma foto de quando era pequeno.
Outros grandes nomes da cultura brasileira participam do Espetáculo Infância Livre: Bando do Teatro Olodum, Djavan, Marcelo Bratke, Maria Bethânia, Marua Gadú, Renata Sorrah, Sandy, Seu Jorge e Thiago Soares.
Ajude a divulgar o movimento convidando seus amigos a enviarem suas fotos e histórias para o hotsite Infância Livre.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

O BANDO NO MUNDO.

Erico Brás, exclusivo na Sala Vip 

O ator baiano Érico Brás, originalmente do Bando de Teatro Olodum, ficou conhecido nacionalmente como “Reginaldo”, seu personagem no filme e seriado: Ó Paíó. Atualmente, ele está no seriado da Globo Tapas & Beijos, exibidos nas noite de terça, no qual contracena com nomes da comédia nacional como Fernanda Torre e Andrea Beltrão.
Dois Terços: Você está no elenco da serie Tapas & Beijos, na qual vive Jurandir, ex-marido de Sueli, personagem da atriz Andrea Beltrão. Como tem sido essa nova experiência ao lado de grandes estrelas da TV?
Érico Bras: Está sendo ótimo. Andréa é uma ótima atriz, adoro o trabalho dela… Sou um colega/fã. O mesmo digo dos outros colegas. Estou feliz em fazer parte deste elenco.
DT : Durante seus 11 anos no Bando de Teatro do Olodum você participou das principais montagens focadas em questões de valorização e da situação do negro no Brasil. O que mais lhe marcou na concepção dos seus personagens?
EB: Eu gosto de todos os espetáculos do Bando. Gosto de todos os personagens aos quais dei vida. Acho que todos os espetáculos do Bando são necessários. Precisamos continuar discutindo a situação do negro no Brasil e o Bando faz isso com suas peças. É um teatro político necessário.
DT: Você viveu sua infância no bairro de Fazenda Coutos, no subúrbio ferroviário e sempre enfrentou as dificuldades de um jovem negro que morava na periferia. Como foi essa fase da sua vida?
EB: Difícil como a vida de um jovem de periferia qualquer. A escola não era boa, a saúde e a segurança eram precárias. Mas meus pais sempre me deram o básico pra sobreviver. Eles garantiram que eu pudesse estudar e alimentar os meus sonhos. Quando entrei para o Bando, em 1999, virei uma referência na comunidade. Fico triste quando volto na Fazenda Coutos e vejo que pouca coisa mudou.O abandono ainda é uma realidade na comunidade.
DT: Seu personagem Reginaldo ganhou o Brasil com seu jeito baiano de ser. De onde veio a inspiração para composição de Reginaldo?
EB: Esse personagem já existia na trilogia do Pelô do Bando. Eu achei ele pronto no teatro e dei a cara que eu achava que ele precisa ter no cinema.Conversei com motoristas do Pelourinho e fui adicionando elementos para aquele personagem.
DT: O negro ainda continua vivendo papéis secundários na televisão brasileira mesmo com todas as lutas das lideranças do Movimento Negro. Qual sua opinião sobre essas questões?
EB: Acho que a gente até avançou. Mais ainda é pouco. Somos a maioria no país e não estamos em maioria na televisão. Acredito na mudança do país. Acredito no avanço dessa luta. Muitos de nós temos espaço porque muitos lutaram e lutam na história desse país. É necessário grupos de teatro como o Bando, que fala disso no palco, na TV e no cinema. Sou do Bando.
DT: Na serie Ó Pai, ó você vivia um romance paralelo com a travesti Yolanda. O que você pensa sobre os homens que buscam o prazer nos braços de um travesti?
EB: Não vejo problema! Cada um vive a sua condição. Todo mundo pode viver o que quiser. Se está feliz, vai fundo.
DT: A comunidade LGBT conseguiu instaurar a Frente Parlamentar pela Cidadania LGBT que está buscando a aprovação do Projeto de Lei 122, que tornará a homofobia um crime. Você também acredita que lugar de homofóbico é na cadeia?
EB: Homofobia e racismo, dentre outras discriminações, têm que ser punidos. Mas é preciso prevenir e acho que podemos começar pela educação. Ensinar as nossas crianças a lidar com as diferenças. Entender que o diferente também é bonito vai facilitar o nosso trabalho na busca da igualdade.

domingo, 15 de maio de 2011

BENÇA por Sérgio Rivero

foto: João Milet Meirelles

Bença: palco de linguagens, especificidades de palavras e gestos


Em recente conversa, MM (Márcio Meirelles) me disse que queria mais do que as histórias vinham lhe contando até então. Não abrir mão da linguagem dramática, sabendo que o teatro faz certas coisas que nenhuma outra linguagem faz, mas trazer para o palco outros suportes narrativos que pudessem agregar valores ao recado do texto dramático. Bença promove bem isso.

No palco, o Bando desfia o Tempo em pequenas cenas que trazem a típica relação dialógica entre personagens, mas também existem momentos em que o dramático se desdobra em outras formas narrativas para que a imagem e o texto gravados de sábios da cultura negra possam brilhar. Tudo para não perder o drama ao, por exemplo, silenciar seus 18 atores que vão cruzar o palco em belíssimas coreografias; ao colocá-los percussionistas; ao tornar mântrico, em suas bocas, um texto que se espalha, polifônico, em curtos delays (estratégia também utilizada na edição do som dos vídeos), enfim, tudo para que, da dinâmica, torne-se possível a convivência pacífica, no palco de um teatro, entre as linguagens. Interessante observar que mesmo as entrevistas embarcam dramaticamente. Makota Valdina, por exemplo, é precisa no timing de sua fala, olhares e risadas, provando que a vida, sem dúvida, é matéria prima da arte.

Menos presente, pois o foco da peça parece ser o texto, também a imagem fílmica dialoga com o grupo em cena. Principalmente, aquela projeção no meio do palco, no chão, onde os atores, nos limites do quadro imagético, parecem interagir, em certos momentos, em movimentos e reverências.

A estratégia de filmar a cena em curso, e projetá-la nas paredes laterais, também configura nova e essencial leitura. A imagem em baixa resolução e preto e branco transfigura o que se vê no palco em uma outra possibilidade cênica. Um branco difuso, espalhado na profundidade em 2D, envolve toda a cena projetada e, pelo menos para mim, pareceu a inauguração de uma outra realidade. Cena dobrada, espelhada... Quem sabe, o espaço depois da vida? Não o espaço da morte, mas o de uma liberdade tão pretendida. Aquela liberdade que o Tempo, por sua repetição – repetido aprendizado que faz de alguns homens e mulheres grandes sábios –, promete. A promessa de um tempo de liberdade, mas para o ser depois.


Sérgio Rivero
Salvador, 15 de maio de 2011

quinta-feira, 12 de maio de 2011

BENÇA: Cultura negra do Maranhão na Bahia

Postado no blog do Instituto Mídia Étnica
Terreiro Seja Hundê (Roça dos Venturas), em Cachoeira. Foto: André Santana


Com “Bença”, Bando de Teatro Olodum promove encontro de guardiãs da religiosidade afro-brasileira no Teatro Vila Velha

A nova temporada do espetáculo BENÇA (em cartaz no Teatro Vila Velha, sempre às sextas e sábados, 20h, e domingos, 17h, até 29 de maio) proporcionará o encontro de importantes mantenedores da cultura e religiosidade afro-brasileiras, vindos de cidades de forte presença da herança africana. É que o Bando de Teatro Olodum resolveu retribuir a acolhida que recebeu de religiosos do Candomblé, de cidades como São Luís do Maranhão, Ilhéus e Feira de Santana, durante o processo de montagem. A peça celebra os 20 anos do grupo e homenageia o conhecimento dos mais velhos, valorizando a memória cultural negra. O espetáculo instalação alia a performance de 17 atores e dois músicos a depoimentos em vídeo dos músicos Bule-Bule e Cacau do Pandeiro e as religiosas Dona Denir, Ebomi Cici, Makota Valdina e Mãe Hilza, figuras emblemáticas e guardiãs dessa cultura.

No próximo domingo, dia 15 de maio, haverá uma sessão especial, às 17h, que contará com a presença de religiosos do Candomblé da nação Jeje Mahin da Bahia e do Maranhão. A cidade de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, será representada pela comunidade religiosa do Seja Hundê ou Roça dos Venturas, um dos mais antigos terreiros do Brasil. De Salvador, foi convidada a comunidade do Terreiro do Bogum, localizado no Engenho Velho de Federação, bairro que concentra grande número de templos voltados ao culto aos deuses africanos.

A religiosidade negra do Maranhão será representada por Aluziomar dos Santos Silva, da Casa das Minas, terreiro tombado pelo IPHAN, cuja origem data do século XVIII, fundado por africanos vindos do Reino do Daomé, atual Republica do Benin. Outras tradições religiosas do Maranhão estarão presentes em Salvador, representadas por: pai Euclides do Terreiro Fanti Ashanti, Maria Sete Flexas do Terreiro Terekô, além de Carlos Benedito, professor e sociólogo da Universidade Federal do Maranhão/UFMA.

BENÇA, com concepção e encenação de Márcio Meirelles, tem o patrocínio da Petrobras, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, e recebeu o Prêmio Braskem de Teatro pela Coreografia criada por Zebrinha. Com linguagem contemporânea e não linear, a peça, ao falar dos mais velhos, trata a passagem do tempo como algo construtivo e enriquecedor. Não um tempo cronológico que simplesmente passa, mas o tempo das coisas. O Bando homenageia sua própria história de duas décadas no cenário teatral baiano, mas também presta reverencia aos atores negros que o antecederam e os antepassados que preservaram a cultura e a religião diante de tanto preconceito e exclusão.

Convidados - A temporada ainda contará com a presença da comunidade do Matamba Tambenci Neto, de Ilhéus, de afoxés do município de Feira de Santana e de religiosos de vários terreiros de Salvador, incluindo as casas dedicadas ao culto dos baba eguns, deuses ancestrais africanos, além de associações que lidam com a velhice. Pensando nestes convidados especiais, o Bando apresentará BENÇA mais cedo aos domingos: às 17h, facilitando o deslocamento dos mais velhos.
Saiba mais: http://migre.me/4sBX3
Belas imagens da peça: http://migre.me/4sBQ4

SERVIÇO

BENÇA
Sextas e sábados, 20h / domingos, 17h ATÉ 29 DE MAIO
Os ingressos custam R$40 inteira e R$20 meia todos os dias.
Promoção
Os 50 primeiros ingressos, de cada sessão, serão disponibilizados a R$ 15 (preço único). Até 24h antes de cada espetáculo.
Instituições e escolas terão descontos na compra acima de 20 ingressos. Cada ingresso ficará no valor de R$ 15 (preço único).
Tel: 71. 3083-4607
E-mail: bando2@gmail.com

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Marcelo de Troi comenta BENÇA


Marcelo de Troi comenta BENÇA em seu blog GREGOS E BAIANOS: 

Kritica ´Bença´: BANDO FORMIDANDO

foto: JOÃO MILET MEIRELLES
`Ò pobres ! O vosso bando
É tremendo, é formidando !
Ele já marcha crescendo,
O vosso bando tremendo…
(…)
E de tal forma um encanto
Secreto vos veste tanto.
E de tal forma já cresce
O bando, que em vós parece,
(…)
Parece que em vós há sonho
E o vosso bando é risonho`
Litania dos Pobres, João da Cruz e Sousa (1861-1898).
Sobreposição de vozes, de sons, de fatos e de lembranças sob o rigor da plasticidade: isso é ´Bença´, espetáculo comemorativo dos 20 anos do Bando de Teatro Olodum. O diretor Márcio Meirelles evoca o poder ancestral para comemorar a entrada na vida adulta deste ´bando formidando´. Coloca em cena o respeito aos mais velhos, o reconhecimento do tempo como o grande forjador dos dramas e histórias humanas.
No espetáculo é evidente a tentativa de reconstrução dessa dramaturgia que engendra afro-brasileiros. Reconstrução que universaliza e problematiza não só a questão da Diáspora, mas a própria questão da velhice, de um país que não se preparou para as mudanças da sua pirâmide social.
Quem costura o enredo da peça é a fala de artistas, religiosos, humanistas, ícones da cultura popular: Bule-Bule, Cacau do Pandeiro, D. Denir, Ebomi Cici e Makota Valdina. Eles refletem sobre o Tempo (Chronos), falam sobre seus cotidianos, costumes, heranças, tradições. Em especial, é a fala de Valdina, do Terreiro Tanuri Jussara, espécie de conselheira das questões sócio-culturais da Bahia, que norteia o espetáculo.
Concordo com as palavras do diretor quando classifica o trabalho como Teatro Instalação. É o espetáculo mais plástico do Bando e aquele onde o talento do artista plástico Meirelles estáem ação. Seujogo de claro-escuro dá pistas da linha butô que deve aprofundar no trabalho futuro com Tadashi Endo.
´Bença´ evoca a necessidade de conhecermos nosso passado. O retrato de Mário Gusmão (1928-1996), primeiro ator negro na Escola de Teatro da Bahia, e os poemas de Jônatas Conceição da Silva, poeta e líder do movimento negro, falecido em 2009, estão presentes no espetáculo. Muitas outras imagens de atores negros baianos, grupos e experiências de artistas-atores negros também são projetadas, e nos levam a reflexão sobre o registro e história das Artes. Somos um povo sem memória, é fato. Onde estarão todas aquelas pessoas?
O Bando conduz a peça com naturalidade espantosa. Embora o conjunto me agrade, gostaria de citar a tríade de atrizes: Arlete Dias, Auristela Sá e Rejane Maia. Arrepiante o momento em que o ator Jorge Washington pede a ´bença´ a todas as casas de Candomblé da velha cidade da Baía. A belíssima coreografia criada por Zebrinha merece destaque. Leveza e simplicidade dos corpos linkadasa todos os detalhes da direção de Meirelles, com forte referência nas danças de terreiro.
Márcio é obstinado pela coerência. Declarações dadas por ele há 13 anos, ainda fazem sentido e não destoam do discurso do artista em 2011. Fruto desse rigor conceitual, não há lacunas em ´Bença`. A peça comprova, primeiro, que vivemos uma época multi e pluricultural e que o teatro precisa dar conta de dialogar com essa época; dois: de que esse discurso transformado em ação é coerente com os 20 anos do Grupo; e três: a constatação de que o Bando de Teatro Olodum é um dos mais importantes grupos teatrais do Brasil.
Makota Valdina, espécie de Ariadne nesse espetáculo, dá autenticidade a ação, comprova os saberes da mitologia afro brasileira, numa teia complexa que une vídeo, música, gestos e falas. Tudo ao mesmo tempo agora.
Esse chão de fato tem dono, e o Bando não está sozinho no palco do Teatro Vila Velha quando entra em cena, como alerta Makota Valdina em uma de suas falas. Ela tem razão. Estão com eles, Xisto Bahia, De Chocolat, Mário Gusmão, Abdias Nascimento, Grande Otelo, Sérgio Guedes, Lázaro Ramos e muitos outros vivos e mortos, anônimos ou não. Resistência histórica. Teatro de códigos, culturas e sotaques. Na Bahia, só o Bando poderia chegar aonde chegou, dando voz ao povo negro, colocando em pauta assuntos tabus. Com ´Bença´, o Bando reiventa nossa cultura, nos sensibiliza ante as duas principais mazelas contemporâneas: o esquecimento e o maltrato.
A bença, Bando!
 SERVIÇO
Concepção e encenação: Márcio Meirelles
Onde: Teatro Vila Velha
Elenco: Bando de Teatro Olodum
Quando: até 29 de maio
Horário: Sexta e sábado às 20h e domingos às 17h
Preço: R$40 e R$20 (meia)
Promoção: os 50 primeiros ingressos, de cada sessão, serão disponibilizados a R$ 15 (preço único). Até 24h antes de cada espetáculo. Instituições e escolas: compra acima de 20 ingressos preço único R$ 15
Informações: (71) 3083-4607 bando2@gmail.com
ENDEREÇO DO BLOG DE MARCELO: 
http://gregosebaianos.wordpress.com/

quinta-feira, 5 de maio de 2011

trilogiaRemix.DOC_aquartapeça

foto: Tiago Lima
trilogiaRemix.DOC_aquartapeça

Há 20 anos, em janeiro de 1991, estreava Essa é nossa praia, espetáculo que deu início à TRILOGIA DO PELÔ – composta também por Ó paí, ó! (1992) e Bai bai Pelô (1994). Em cena um grupo de atores negros, o BANDO DE TEATRO OLODUM, inaugurava um novo discurso cênico sobre a comunidade do Maciel, bairro do Centro Histórico de Salvador.

Com essas peças, a Bahia produzia um documento histórico dramatúrgico sobre uma comunidade de maioria negra que sofria um violento processo cultural, com a reforma que o Governo do Estado impunha àquele território urbano. Reforma de prédios que não incluía seus habitantes. Isto se deu entre a primeira e a segunda peças. A expulsão dos moradores e início das obras, entre a segunda e a terceira.

Muitas coisas aconteceram daquela estréia até agora. O Bando cresceu, se desligou do Olodum, fixou residência no histórico Teatro Vila Velha, gerou Lázaros Ramos, ganhou visibilidade, Ó paí, ó! virou filme e série televisiva de mesmo nome.

O Pelourinho não é mais aquele, como diz a canção. A reforma, fadada ao insucesso por não incluir a comunidade, alterou a vida de seus moradores que saíram, resistiram ou negociaram e se estabeleceram. Construíram alternativas de sobrevivência e de permanência. Comerciantes ocuparam e ocupam de diversas maneiras os prédios, antes moradia de muitos. ONGs se constituíram e atuam na área. Vários programas e planos de revitalização governamentais ou acadêmicos foram construídos. O Município, se manteve omisso a produzir factoides que mais confundem do que resolvem.

O Bando então resolveu criar o quarto espetáculo e transformar a TRI em TETRALOGIA DO PELÔ, remixando textos, personagens, tempos, linguagens, repensando a história do grupo, das peças e da comunidade do Maciel/Pelourinho. Moradores, outros artistas, novos parceiros têm trabalhado de forma convergente nessa nova reflexão cênica que tem estreia prevista para o segundo semestre de 2011.

O processo já começou. Esta exposição é uma leitura sobre seu início: fotos de Tiago Lima, vídeo de Rafael Sacramento com expografia de Mayra Lins, João Milet Meirelles e Tiago Lima e realização da Baluart Produtora.

Por enquanto, estamos fazendo tudo isso com nossos próprios recursos, apoiados pela necessidade de modificar o mundo.

BENÇA com desconto.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Ó paí, ó! rende. O Terra Magazine de hoje traz a seguinte notícia:


Bar de Neuzão se transforma em "estádio" para torcedores do BA-VI

02 de maio de 2011  08h22


 . Foto: Lindomar Assis/Especial para Terra


Bar do Neuzão é palco de festa rubro-negraFoto: Lindomar Assis/Especial para Terra

LINDOMAR ASSIS
Direto de Salvador
Conhecido por milhares de pessoas por meio das cenas do filme "Ó Paí ó", o Bar do Neuzão, no Pelourinho, em Salvador, foi o ponto de encontro das torcidas de Bahia e Vitória para incentivarem os seus times a se classificar a final do Campeonato Baiano. No filme, Neuzão é interpretada pela atriz Tânia Toko.
No Bar do Neuzão anônimos e famosos geralmente se encontram para comemorar qualquer conquista, sobretudo, das suas equipes do coração. No domingo, quem comemorou mesmo foi a torcida rubro-negra, que mesmo com a derrota por 3 a 2 para o Bahia, garantiu vaga na final.
"Foi um time guerreiro durante o campeonato (o Vitória) e mereceu a classificação", afirmou a compositora do primeiro bloco afro da Bahia, o Ilê Aiyê, Rita Mota, mesmo sendo torcedora da equipe tricolor. "Sou Bahia, mas tenho flexibilidade de que o melhor precisa sempre vencer, e o melhor para mim será sempre bom para o meu Estado, pois se trata do Bahia ou do Vitória", ponderou Mota.
Para a presidente do Sindicato das Trabalhadoras Domésticas da Bahia, Cleuza Maria de Jesus Santos, a sua maneira de torcer é diferente. "Sou rubro-negra de coração. Amo o meu Vitória e quero que ele ganhe sempre", enfatiza a presidente, demonstrando convicção.
"E eu também amo o meu Bahia", afirmou a integrante do Movimento Negro Unificado de Mulheres do Estado, Eliana Cerqueira, mais conhecida como Rainha. "Torcemos por times diferentes, mas respeitamos uns aos outros. Vivemos em harmonia, com muita paz", ponderou Rainha.
Bom mesmo é para o dono do bar, Ricardo Matos, que aproveita a fama do local para transmitir os jogos da dupla Ba-Vi e aumentar a sua venda. Segundo Matos, após o bar ter aparecido nas cenas de "Ó Paí ó", muitos turistas começaram a visitar o local, e o negócio cresceu em 30%.
Provocações
Assistir a um clássico Ba-Vi e não ouvir gozações, principalmente em uma decisão, é sinal de que algo está errado. Porém, não foi esse o cenário no Bar do Neuzão, em Salvador, no domingo.
Bastou sair o primeiro gol do Bahia, aos 3min do primeiro tempo, para se ouvir: "Dança da bundinha, dança da bundinha, em Pituaçu, o superman virou sardinha", recorda torcedores do Vitória ao se referir à recente derrota em que o Bahia perdeu por 1 a 0 para o rival.
A vingança da torcida rubro-negra não demorou muito. Bastou o gol de empate, de pênalti, aos 21min do primeiro tempo para que a gozação fosse retribuída, após torcedores do Bahia reclamarem da penalidade marcada contra o time tricolor: "Vai chorar, é? Vai chorar, é? Chore, sardinha!", parodiando a música "Chore na Minha", da banda de pagode Saiddy Bamba.
A partir daí, a cada gol marcado, era motivo para provocações, independente do time.