segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Ubirajara Fidalgo: primeiro dramaturgo negro brasileiro

 Jean Custo · Mossoró, RN
6/2/2011

Nos últimos anos muito se falou sobre companhias de teatro compostas por atores afro-brasileiros como o Bando de Teatro Olodum, da Bahia ou a Companhia dos Comuns, no Rio de Janeiro, só para citar duas, cujas montagens refletem os anseios da população negra no Brasil. Porém, um dos precursores desse movimento - iniciado ainda nos anos 40 com encenações de clássicos do teatro pelo TEN, Teatro Experimental do Negro, de Abdias do Nascimento - foi o dramaturgo, ator, diretor e produtor maranhense Ubirajara Fidalgo, morto no ano de 1986, no Rio de Janeiro. Criador do Teatro Profissional do Negro, o T.E.P.R.O.N, ainda nos anos 70, poucos anos apos aportar no Rio de Janeiro direto de São Luís do Maranhão. Ubirajara Fidalgo não só tornou-se o primeiro dramaturgo negro no Brasil como foi pioneiro em várias outras frentes; levou, pela primeira vez, o debate racial para os palcos com a participação do público e sua companhia, o TEPRON, iniciou o que hoje tornou-se o lema de instituições respeitadas como o grupo de teatro Nos do Morro; formou e empregou centenas de jovens atores de favelas e periferias. Com o T.E.P.R.O.N Ubirajara Fidalgo encenou uma série de textos autorais que sempre refletiam a problemática do racismo e do preconceito em todas as suas vertentes e através de vários gêneros; fosse em comédias, dramas e, até mesmo, em peças infantis como o musical OS GAZETEIROS, que ficou em cartaz durante os anos de 1982 a 1985 no Teatro Thereza Rachel. Foi lá também que ele encenou junto com o T.E.P.R.O.N outros dois grandes sucessos da época, o monologo DESFULGA (que significa literalmente o contrario de "fuga") e drama de Zé Baiano, o nordestino deslumbrado com a cidade grande em FALA PRA ELES, ELISABETE. Ativista do Movimento Negro, autor, ator, produtor e diretor da companhia, Fidalgo desempenhava todas essas funções com maestria, chegando, inclusive, a apresentar um quadro sobre moda, cultura e comportamento durante os anos de 1984 a 1986 no programa ELA com Edna Savaget, na Rede Bandirantes. Seu último trabalho em vida foi a montagem da peça TUTI no Teatro Calouste Gulbenkian, que abordava o racismo nas relações interpessoais através de um inusitado triângulo amoroso entre uma prostituta, um professor de história e uma judia aristocrata. No ano seguinte, em julho de 1986, viera a falecer, aos 37 anos, em decorrência de insuficiência renal. Todavia ainda deixou um acervo com obras inéditas e um livro inacabado que fazem parte do acervo da Associação Cultural e Teatral Ubirajara Fidalgo, administrada pela sua viúva, a produtora Alzira Fidalgo.

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