segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Bença, Bando.


*Por Meire Freitas
"O destino dá a você o caminho Ifá é que vai transformar", Ebomi Cecí/ foto: João Millet Meirelles
Reflexão. Essa era a expectativa de quem, no final de semana, apostou consciente na estreia de Bença, a nova montagem do Bando de Teatro Olodum. O cheiro de folha, ainda na entrada do Teatro Vila Velha na última sexta-feira(5), anunciava a áurea diferenciada que tomaria conta do ambiente transportanto a plateia para assistir de camarote, mais uma vez, a nossa realidade.
No início só o som dos instrumentos e a imagem de Mario Gusmão passeia pelo cenário. A viagem vai começar. Às vezes para dentro da gente, se perdendo nas nossas contradições ou indo na direção certa dos nossos valores. De quem tem. Por outras vezes para o íntimo do outro que está perto, mas que insistimos em ver com nossos olhos quase sempre. Bença nos empresta o olho alheio.
Ter noção de como estamos vivendo nem sempre é bom, mas necessário. Imprescindível para alertar, para mudar de postura e trilhar no caminho certo. Para quem teve a sorte de ser orientado, mesmo antes de andar, resta o inconformismo de ver o que está errado e o alívio de que não vai olhar para trás e deixar o rastro do desrespeito a tudo que estava aqui antes da gente. A música, o texto e demais referências gritam a essência da temática negra, mas o discurso amplia e fala de um lugar onde qualquer um pode ser encaixado.
As falas dos personagens e os depoimentos de Bule-Bule, Cacau do Pandeiro, D. Denir, Ebomi Cici, Makota Valdina e mãe Hilza soam familiares. São os chamados ou conselhos de pessoas mais velhas, parentes ou não, que contribuíram e continuam ajudando na nossa eterna formação humana. Intervenções que, como eles mesmos diziam, um dia a gente ia entender a causa, a importância e o efeito.
 
Não há como fugir da inquietação provocada por dúvidas, angústias, incertezas ou certezas quando lidamos com temas como morte, ancestralidade, futuro e valores. Às vezes não são assuntos que desejamos encarar em uma noite do final de semana. Mas aí vem o silêncio dos atores, só a música ou uma intervenção mais amena para ajudar a assimilar as coisas. No final somos sozinhos fisicamente no palco. Anestesiados, demoramos a aplaudir tudo aquilo que eles, os atores ao saírem de cena, deixaram com a gente.
 
Bença, Bando.
 
*Meire Freitas é jornalista do A Tarde

Um comentário:

Val Benvindo disse...

Reconhecimento! Me reconheci, reconheci meus avós, pais, tios e tias, primos e primas.
Adorei a peça, ela superou as minhas expectaivas. O Bando mais uma vez representou todos nós! Só posso agradecer, de novo!
Estava tão ansiosa para a estreia de "Bença", que dois dias antes escrevi um texto!
Quem quiser dar uma olhada, vou ficar feliz! Espero que gostem!

http://todameninabaianatem.blogspot.com/2010/11/benca.html