quinta-feira, 19 de julho de 2012

Um jovem ancião de Oxossi

É quase impossível vê-lo sem um sorriso no rosto. Com menos de 50 anos, esse ator baiano é referência de luta política pela cultura e a arte de seu povo. Axé, Jorge Washington!
Várias pessoas que veem aquele negro alto de longos dreads na cabeça mergulhando nas águas quentes de pequeno córrego que corta Arembepe - a mais famosa aldeia hippie do Brasil, no município de Camaçari, a 30 quilômetros de Salvador - logo o reconhece do filme e do seriado Ó Paí Ó, da Globo. "Jamais vou esquecer a cena em que você está sentado na privada, quando o casarão é implodido", comenta uma senhora. Jorge Washington Rodrigues da Silva simplesmente sorri. Considera aquele local seu paraíso. "Moro no bairro da Liberdade, em Salvador, onde sempre vivi. Acho que ali é a maior concentração de negros e de negras do País. Desde muito cedo entrei para o Movimento Negro e aprendi a fazer militância. Nas ruas da cidade, no palco com o Bando de Teatro Olodum ou na farmácia do Hospital Manoel Vitorino. Minha missão é combater o racismo."


Jorge Washington com o bando de teatro Oludum

No ano passado, ele foi agraciado com a Medalha Zumbi dos Palmares, concedida pela Câmara Municipal de Salvador, por indicação do vereador Moisés Rocha (PT). Na ocasião, comentou que começou a atuar num grupo de teatro amador do Calabar - uma das comunidades mais carentes da zona norte da capital baiana. Ali descobriu que "aquela linguagem artística poderia ser usada para denunciar as intolerâncias, os preconceitos e as discriminações e, principalmente, transformar mentes e corações". Por isso se formou no curso Livre de Teatro, da Universidade Federal da Bahia (Ufba).

O ator em Arembepe, no município de Camaçari, na Bahia

Jorge conta que estava quase desistindo da carreira, quando soube que o diretor Márcio Meirelles estava convocando atores para montar um grupo teatral que iria trabalhar com a temática afro. Apresentou-se e, de lá para cá, participou das 31 montagens do Bando de Teatro Olodum, em 21 anos de carreira. Por sinal ele é o único que esteve em todos os espetáculos desse grupo, além do filme Ó Paí Ó e do seriado de TV. Seus trabalhos individuais mais recentes no cinema foram Jardim das Folhas Sagradas, de Póla Ribeiro, e O Homem que Não Dormia, do cineasta baiano Edgard Navarro. A avant première aconteceu no final do mês passado, na Mostra Internacional de Filmes do Cine Futuro - VII Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual, no Teatro Castro Alves. Jorge vive o personagem Lubisone que, segundo ele, "é diferente de tudo o que já fiz no cinema, teatro e televisão. Um momento diferente e especial na minha carreira de ator."
Jorge Washington é intransigente quando se trata de fazer alguma concessão para um papel que desfavoreça a imagem do povo afro: "Não tem dinheiro que faça eu vender mais de 500 anos de história de luta da minha raça."
Oxossi, orixá caça, agricultura, alimentação é fartura ao dono de seu Orí (cabeça). Ele também comanda a busca do conhecimento, o ensino, a cultura e as artes Essa é a cara do Jorge.
Òké Aro!!! Arolé!
"Desde muito cedo entrei para o movimento negro e aprendi a fazer militância. Nas ruas da cidade, no palco com o bando de teatro Olodum ou na farmácia do hospital Manoel Vitorino. Minha missão é combater o racismo "  


Fonte: Revista Raça Brasil - Edição 168 - 2012

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