sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Macksen Luiz, crítico teatral, fala sobre Bença no FIAC 2011

Valdinéia Soriano em foto de Tiago Lima

Na perspectiva de uma outra poética, o diretor Márcio Meirelles foi em busca do passado da cultura afro-baiana para referenciá-la a um presente que se vai desfazendo. Bença, a mais recente montagem do Bando de Teatro Olodum, mantém a coerência estilística de seu repertório, ao transformar a cultura afro-brasileira em matéria dramática. Em “Bença”, o elenco fixo do Bando faz reverência ao conhecimento dos mais velhos, ligados à religiosidade do candomblé, e à perda da sua influência na contemporaneidade. O formação do mundo e a existência humana se constituem em unidade que, segundo os cânones da religiosidade de origem africana, é dada pela natureza. Hoje, quando essa natureza sofre com tantas mutilações e a vida está voltada para variados apelos exteriores, o tempo parece apenas contabilizar o imediatismo de sua passagem. É destas contradições e do esquecimento daquilo que nos foi legado de que trata esta encenação de Márcio Meirelles. O palco abriga um terreiro de candomblé, com os atores vestidos de branco, tocando atabaques e instrumentos de celebração aos orixás, acólitos das entidades em cerimônia de exaltação. Não é fácil perceber todo o significado do cerimonial cênico, já que a linguagem religiosa tem códigos que nos são desconhecidos. O elenco evolui como num balé, capaz de criar formas harmoniosas entre o calor do terreiro e o rigor do palco. Sem folclore e com idéia dramatúrgica consistente, o Bando de Teatro Olodum faz depoimento sensível e, algumas vezes até contundente, sobre o tempo e o desgaste do seu mal uso.



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