terça-feira, 27 de abril de 2010

Sampa, sampa, sampa!!!

Por Auristela Sá

As notícias era que São Paulo só chovia quando aportamos lá no dia 08 de abril. Chegamos num dia de muito frio, mas chuva não tinha mais sinal. Fizemos o primeiro final de semana do Cabaré. Não vou mentir, eu estava apreensiva em lotar aqueles 620 lugares do Sesc Vila Mariana. O teatro é imenso e lindo.

O espetáculo foi um sucesso e lotava mais a cada um dos três dias. Incrível como uma montagem que vai completar treze anos falando, discutindo sobre racismo, preconceito, ainda se faz necessária. É... precisamos realmente levar o nosso adolescente Cabaré pelo Brasil afora.

Para mim como atriz e mulher negra que sou, ficava esperando o momento da interatividade na peça. Isso para comprovar que os problemas enfrentados pelos negros na parte nordestina do país não se difere tanto dos negros paulistanos. Ou, talvez seja bem pior, pois o racismo é mais velado, mascarado, separatista.

Os depoimentos dos negros eram bem próximos dos que ouço há mais de 12 anos, quando perguntávamos a alguém da platéia se já havia sofrido alguma discriminação no seu local de trabalho ou na vida como um todo.

No sábado, dia 10, um rapaz chamou a minha atenção e, mais tarde, pude ver que de todo o grupo. Ele deu um depoimento emocionado sobre o que já passou e viu. No dia seguinte, antes da última apresentação de Cabaré, realizamos um bate-papo e olha quem estava lá: James, esse é o nome dele. A conversa em alguns momentos foi acirrada, pois tinha um outro James “branco”, que ficou bastante incomodado com a peça e foi declarar isso.

Que bom!

A primeira frase dele foi “teatro foi feito para formar e não para deformar” e, no final, disse: São Paulo adora a Bahia através de Carlinhos Brown e Olodum (Banda) por favor, não destruam isso”

Em determinados momentos os dois James se chocaram. Mas, não é para isso que discutimos? Daí em diante o James negro acompanhou todas as apresentações e eu, claro, não resisti e conversei um pouco como ele.

James (preto) fala...

A minha impressão de Cabaré começou quando as meninas das Capulanas (grupo de teatro SP) me falou de uma peça que a primeira fala começa com "boa noite, boa noite brancos..." eu falei, meu, preciso ver isso porque não existe em São Paulo. Constatei que é pura provocação, muito além de uma simples fala que vi no começo. O Bando está trazendo para São paulo a minha realidade, o meu cotidiano de vida. Está falando disso em cada cena, sobre o meu cotidiano, o de minha irmã, do meu vizinho que é preto também. As vezes esse vizinho não é tão consciente dessas questões, mas é preto.

O Bando vem fazer Cabaré aqui e vejo ele dialogando comigo. Consigo olhar e ver falando da minha vida, dos meus próximos sem ter me visto nunca. Isso é muito marcante porque é como se vê encenado. Vocês conseguem dialogar comigo muito mais que outros grupos de teatro. Cada cena que vocês fazem conseguem dialogar comigo diretamente. Aí fica simples dizer que foi a melhor coisa que já vi na minha vida, porque a gente gosta de ir ao teatro e se reconhecer no personagem.

O Bando é a oportunidade para muitos de mudar de vida. O Bando faz a gentileza de convidar quem faz parte parte do problema a repensar Ele convida quem faz parte do problema fazer parte da solução. Se alguém não se assume racista vai continuar acreditando nesse falso mito de democracia racial
.”

James Bantú – músico

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